Hoje, no ônibus, não sei porque umas idéias sobre esse texto começaram a surgir na minha cabeça. Dizem que quem escolhe as palavras para um texto não é o escritor, e sim as palavras que o escolhem e começam a saltar. Se é assim ou não, hoje comigo isso aconteceu.
Sobre a foto, digitei no google imagens: apaixonar e olhei as fotos que surgiram. Até gostaria de colocar beijos calorosos ao pôr do sol, casais felizes na chuva, mas, ainda acredito que podemos nos apaixonar por outras coisas na falta de uma pessoa que seja digna ( ou não ) de tal sentimento.
ai vai..
Dizem que os opostos andam mais perto do que as palavras que são parecidas ou que querem dizer a mesma coisa. A alegria, por exemplo, anda mais perto da tristeza do que da felicidade ou do sorriso. O branco, segundo essa teoria, está mais próximo de ser preto do que de ser amarelo, ou rosa claro. Enfim, mesmo não tendo sido a vida toda uma fiel escudeira de quem acredita nisso, alguns dias na vida a gente acaba tendo provas ( quase ) concretas de que isso pode mesmo ser verdade. É como apaixonar-se e desapaixonar-se. Você se apaixona facilmente pelos detalhes, pelo pequeno, pelo básico, pelo simples. Se apaixona por uma sapato diferente, por uma meia feia, por um jeito de abrir a boca quando está com sono. Se apaixona pela cor que ele prefere, pela musica que tem uma frase que faz lembrar vocês dois. Apaixona-se pela segunda língua que ele mal fala, pelo jeito que seus pais te tratam, pelo gesto estranho que ele faz na rua. Se apaixona pelo jeito seco dele atender o telefone, pelo gosto musical previsível, pelo barulho que ele faz quando digita. Suspira pelo livro que ele te ensinou a ler, pelas perguntas na sala de aula, pela marcha errada que ele passa no carro. Apaixona-se pelo tempo que ele passou fora do país, pela falta de dinheiro nos finais de semana, pelo carro que ele sonha em ter. Se apaixona pela faculdade que ele não passou, pela cidade que ele te apresentou, pela ex namorada que ele já esqueceu. Você se apaixona até pela opinião distinta, pelo gosto de pasta de dente que ele tem depois que acorda, pelas histórias que ele te confidencia.
E infelizmente, todo esse encanto pelas banalidades, esse encanto desprovido de "porquês" e de sentidos, pode desabar com a mesma rapidez ( ou com mais rapidez ) do que se formou. Por motivos sérios, maduros, importantes, ou por motivo algum. Com explicações aceitáveis, por você e por todos, ou sem nenhuma palavra que possa fazê-lo entender. Ele pode até não querer, não se preocupar, não pedir, mas nós, no fundo, sempre procuramos saber como e quando explicar.
Você se despaixona pelo cheiro do perfume que ele usa, pelo poema que ele achou lindo, pelo erro ridículo que ele cometeu em uma conta de matemática. Se despaixona pela personalidade não tão forte, pela mentira que ele conta para os pais, pelo mau humor matinal. Desapaixona-se pelo prato predileto dele que você não come, pela camiseta nova que ele comprou, pelo beijo diferente quando ele está com sono. Se desapaixona pela falta de criatividade para te conquistar, pelas palavras repetidas no depoimento, pela vontade excessiva de ser independente. Perde o encanto pelo computador que ele tem, pelo atraso nos finais de semana, pelo abraço pouco apertado, pela indiferença inerente ás horas de preocupação. Se desapaixona pelo jeito delicado dele sentar na carteira, pelos ossinhos expostos e pelo sorriso conquistador.Tudo passa do mesmo modo que veio.
Talvez isso não seja tão ruim.
é (in)feliz, como já dizia Guimarães rosa: só uma questão de prefixo.
amar, desamar.
( ... )
Boa noite
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